Indústria de máquinas cresce 9% e acende alerta sobre protecionismo e juros

A indústria brasileira de máquinas e equipamentos apresentou um desempenho robusto em abril de 2025, registrando um crescimento

A indústria brasileira de máquinas e equipamentos apresentou um desempenho robusto em abril de 2025, registrando um crescimento de 9% no faturamento total em comparação com o mesmo mês do ano anterior. O setor alcançou uma receita de R$ 24,6 bilhões, segundo dados divulgados pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) nesta quinta-feira (29).

Esse avanço é significativo, especialmente em um cenário econômico ainda marcado por incertezas monetárias e fiscais. Quando comparado ao mês anterior, março, a receita apresentou um crescimento de 2,5%, que sobe para 4,8% com ajuste sazonal. O dado reforça a resiliência do setor, mesmo diante de um ambiente macroeconômico de juros elevados, pressão fiscal e volatilidade nos mercados internacionais.

A força desse crescimento foi particularmente impulsionada pelas vendas internas, que atingiram R$ 18,6 bilhões em abril — um crescimento de 14,7% na comparação anual e 2,8% frente ao mês de março. Esses números refletem não apenas a base de comparação mais fraca do ano anterior, mas também o desempenho consistente de setores da economia que não são diretamente impactados pela atual política monetária contracionista.

Segundo a Abimaq, entre janeiro e abril, a indústria acumulou um crescimento de 13,4% em relação ao mesmo período de 2024, consolidando uma trajetória de recuperação que vinha se desenhando desde o final do ano passado. No entanto, esse cenário positivo pode ser temporário. A diretora de Competitividade, Economia e Estatística da entidade, Cristina Zanella, foi enfática ao afirmar que há riscos concretos de desaceleração no segundo semestre de 2025.

A principal razão? A base de comparação passará a ser mais exigente, visto que o segundo semestre de 2024 registrou uma recuperação significativa, especialmente no que diz respeito ao faturamento. Zanella ainda destacou um conjunto de fatores adversos, entre eles o patamar elevado da taxa Selic — que segue em dois dígitos — e o recente aumento nas alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), anunciado pelo governo federal. Na avaliação da executiva, trata-se de uma política de contenção agressiva, que deve impactar de forma direta os investimentos produtivos ao longo dos próximos meses.

“Imaginamos que isso vá impactar negativamente os resultados dos investimentos ao longo do segundo semestre”, afirmou Zanella em coletiva à imprensa. Em outras palavras: o capital que deveria irrigar o setor produtivo pode ser desviado para instrumentos de renda fixa, dada a atratividade de retornos com risco mais baixo, o que enfraquece o ciclo de investimento em ativos reais — como máquinas, equipamentos e tecnologia industrial.

Outro ponto sensível está no comércio exterior. As exportações de máquinas e equipamentos caíram 12,9% em abril, na comparação com o mesmo mês de 2024, totalizando US$ 1 bilhão. Em contraste, as importações cresceram 8,5%, alcançando US$ 2,6 bilhões. O desequilíbrio na balança comercial do setor é um sinal de alerta para os industriais e investidores. Com um consumo aparente de máquinas (que considera produção nacional somada às importações) crescendo 16,3% na comparação anual, e 0,9% em relação a março (ou 10% com ajuste sazonal), o Brasil evidencia uma demanda crescente — mas que está sendo, em parte, suprida por produtos estrangeiros.

E aqui entra uma variável crucial para os investidores da Open Investimentos: a política comercial e tributária do governo federal está, uma vez mais, no centro do debate sobre a competitividade da indústria brasileira. A recente decisão do governo de renovar por 12 meses o sistema de alíquotas sobre produtos siderúrgicos, com inclusão de novos itens, impacta diretamente a cadeia de valor da indústria de máquinas.

A medida foi criticada de forma veemente pela Abimaq, que vê no movimento um caso clássico de protecionismo disfarçado de defesa comercial. Para o presidente-executivo da entidade, José Velloso, o argumento das siderúrgicas — de que a medida visa conter importações abusivas, sobretudo da China — não se sustenta. Segundo ele, “isso não é defesa comercial, é proteção”.

A indústria siderúrgica brasileira tem pleiteado há anos a implementação de um sistema de cotas para barrar o influxo de aço estrangeiro, especialmente o de origem chinesa. Entretanto, as próprias siderúrgicas criticaram o modelo implementado anteriormente por sua ineficácia. Agora, com a renovação do sistema e a inclusão de mais quatro itens que antes escapavam da tarifa de 25%, o setor espera maior eficácia. Mas os fabricantes de máquinas temem novos repasses de preços ao consumidor final, o que pode comprometer a competitividade da indústria nacional frente aos produtos importados.

Segundo Velloso, o setor de máquinas já foi diretamente impactado por essa política em 2024, quando o aumento da alíquota do aço elevou os custos de produção. E o receio é de que esse efeito se repita ou até se agrave em 2025, com impactos negativos no desempenho financeiro das empresas, na formação de preços e na capacidade de reinvestimento.

“Se fosse uma defesa comercial, teria que aumentar a alíquota apenas do aço vindo da China. Mas o que se viu foi um aumento da tarifa sobre o aço de qualquer origem, inclusive dos Estados Unidos, onde o aço é mais caro do que no Brasil. Isso é protecionismo puro”, disparou o executivo.

O alerta é claro para os investidores: o setor de máquinas e equipamentos, que vinha se beneficiando de uma recuperação cíclica moderada, pode enfrentar um ambiente mais restritivo a partir do segundo semestre, marcado por:

  • Inflação de custos industriais, com destaque para o insumo aço;
  • Restrição ao crédito de longo prazo, com Selic alta e IOF aumentado;
  • Perda de competitividade no mercado externo, com exportações em queda e importações em alta;
  • Incertezas na política comercial, que podem afetar decisões de investimento e inovação.

Embora os números de abril sejam robustos e confirmem a capacidade de resiliência da indústria nacional, o investidor que deseja se posicionar no setor precisa ir além da fotografia de curto prazo. É preciso considerar o filme de médio e longo prazo, que, no caso da indústria de bens de capital, exige um ambiente macroeconômico estável, previsível e com incentivos à produtividade e inovação.

A demanda doméstica continua sendo um motor relevante, especialmente em segmentos ligados ao agronegócio, infraestrutura e energia. No entanto, a pressão nos custos e a incerteza quanto à política industrial colocam um teto para o crescimento mais sustentado. Isso cria um cenário bifurcado: de um lado, empresas bem capitalizadas, com cadeia de suprimentos verticalizada e capacidade de repasse de preços, podem continuar performando bem. De outro, companhias mais dependentes de crédito e mais expostas às variações cambiais e tributárias devem encontrar um cenário mais desafiador no segundo semestre.

Para o investidor da Open Investimentos, a leitura pragmática desses movimentos é essencial. O momento atual pode ser aproveitado para identificar ativos subvalorizados em meio ao ciclo positivo, mas com um olhar atento para os riscos regulatórios e fiscais. A recomendação é buscar empresas com sólida governança, fluxo de caixa robusto, e presença diversificada no mercado nacional e internacional. Além disso, monitorar constantemente os desdobramentos da política industrial e comercial será determinante para decisões estratégicas nos próximos trimestres.

A performance do setor de máquinas e equipamentos é, historicamente, um termômetro antecipado da atividade econômica real. Portanto, qualquer sinal de desaquecimento no setor pode indicar mudanças mais amplas na dinâmica da economia brasileira. E neste ambiente, quem investe com inteligência, leitura de cenário e visão de longo prazo, sai na frente.

Com informações Reuters

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