Hamilton lança ETF “MIX”: ações, ouro, títulos e uma pitada de alavancagem

Ah, o mercado financeiro canadense. Sempre tão sóbrio, tão previsível, tão… “estrategicamente inovador”. Nesta sexta-feira, 30 de maio

Ah, o mercado financeiro canadense. Sempre tão sóbrio, tão previsível, tão… “estrategicamente inovador”. Nesta sexta-feira, 30 de maio de 2025, o mundo presenciou mais uma dessas ocasiões emblemáticas que prometem abalar as estruturas do universo dos investimentos (ou pelo menos causar alguma agitação na bolsa de Toronto antes da pausa para o café). Foi com pompa e circunstância que as senhores Jennifer Mersereau e Pat Sommerville, ambas sócias seniores da Hamilton ETFs, se juntaram a Graham MacKenzie da TSX para celebrar o lançamento do mais novo milagre financeiro: o Hamilton Enhanced Mixed Asset ETF, ou para os íntimos, TSX: MIX.

Sim, você leu certo: MIX. Nome sugestivo, não? Mistura. Coquetel. Salada. Escolha o seu sinônimo favorito. E o que essa belezura mistura? Um pouco de tudo que os gurus da teoria moderna de portfólio juram de pé junto ser o segredo da tranquilidade financeira: 60% de ações dos EUA, 20% de títulos do tesouro americano e, claro, 20% de ouro. Porque nada diz “segurança” como o metal precioso que todas as economias socialistas falidas adoravam acumular.

Mas, calma, não termina aí. Como cereja do bolo (ou, para os mais céticos, a bomba de chantilly prestes a explodir), temos um toque de alavancagem modesta. A palavra “modesta”, nesse caso, é usada com aquela mesma convicção que políticos utilizam quando prometem “pequenos ajustes fiscais”. Ou seja, prepare-se para a montanha-russa.

E aqui está o pulo do gato: essa combinação engenhosa não apenas visa “potencializar o crescimento”, como também promete “reduzir a volatilidade e os drawdowns”. Ora, pois claro! Quem nunca viu um produto financeiro alavancado que também reduz riscos? Isso é tão comum quanto unicórnios tricotando cachecóis na Bay Street.

Hamilton ETFs, para quem ainda não foi devidamente evangelizado pelo marketing da companhia, é uma das gestoras de ETFs que mais cresce no Canadá, com mais de 8 bilhões de dólares em ativos sob gestão. O que, convenhamos, é uma cifra respeitável. E nada melhor para capitalizar em cima dessa maré positiva do que lançar um produto que parece saído de um livro de autoajuda para investidores indecisos: “Invista com equilíbrio, mas seja ousado; seja seguro, mas busque crescimento; tenha estabilidade, mas use alavancagem.” Uma filosofia de almanaque, se é que podemos dizer assim.

O discurso oficial, repetido em uníssono por Jennifer e Pat – que, aliás, pareciam mais orgulhosas que pais em formatura de filho com média 6 –, era que o MIX representa a solução ideal para os investidores que desejam “exposição diversificada” e “rendimento com menor risco”. Como se não bastasse, ainda adicionaram que o ETF oferece uma experiência “tudo-em-um” com a praticidade que só o mercado canadense poderia embalar com fita vermelha e laço de compliance.

Agora, paremos para pensar um segundo.

Se você fosse montar um portfólio tradicional com 60% em ações americanas, 20% em títulos do Tesouro e 20% em ouro, estaria basicamente replicando a velha estratégia 60/40 com um toque de Midas. Mas ao invés de fazer isso diretamente (e, quem sabe, economizar em taxas), agora você pode pagar para fazer isso dentro de um único fundo com alavancagem incluída. Porque convenhamos, todo investidor conservador adora uma pitadinha de adrenalina disfarçada de “sofisticação financeira”.

É quase como dizer: “Queremos proteger você dos riscos… usando risco.” Uma filosofia tão encantadora quanto contraditória, como pedir um Big Mac com batata grande e uma Coca Zero.

A pergunta que não quer calar é: por que agora? Por que lançar um produto com esse perfil neste exato momento do mercado, onde os EUA estão flertando com recessão técnica, o ouro se comporta como um adolescente hormonal e os títulos do Tesouro americano estão oscilando mais do que o humor do investidor médio em ano eleitoral?

Talvez a resposta seja simples: timing não é necessário quando você tem uma boa história para contar. E o MIX tem uma ótima. É o fundo ideal para quem quer investir em tudo e, ao mesmo tempo, não se comprometer com nada. É o famoso “pegar carona em todos os mercados e ver qual chega primeiro”. Uma estratégia digna de quem escolhe números de loteria baseando-se nas datas de aniversário da sogra.

Não nos enganemos: há um público para isso. Investidores que não querem pensar demais, que querem “exposição global” sem precisar entender o que é duration, correlação ou custo de carregamento. Para essas almas perdidas, o MIX surge como um oásis no deserto da indecisão.

E o mais fascinante nisso tudo é como a própria Hamilton ETFs se posiciona. Com mais de 20 ETFs na prateleira, a empresa parece determinada a cobrir todas as bases possíveis. É como se estivessem jogando dardos no quadro de um cassino: um pouco de setor financeiro aqui, um pouco de REIT ali, uma pitada de tecnologia acolá, e agora… MIX! Afinal, se a diversidade é o tempero da vida, a Hamilton quer servir um banquete com gosto de buffet corporativo.

Mas atenção: o que nos vendem como “diversificação eficiente” pode muito bem ser apenas uma forma polida de diluir decisões. Um portfólio que faz de tudo um pouco pode acabar não fazendo nada direito. Ou, como dizia minha avó, “quem muito abraça, pouco aperta” — e nesse caso, o aperto pode vir na próxima queda do S&P 500.

O lançamento, que teve direito a sineta, fotos e aquela tradicional aura de “estamos fazendo história”, é apenas mais um capítulo na saga de transformar produtos complexos em soluções fáceis de digerir. Não porque o investidor médio precise, mas porque é mais fácil vender esperança empacotada em ETF do que ensinar o básico de análise de risco. E, convenhamos, esperança vende. Principalmente quando vem acompanhada de gráficos ascendentes, linguagem técnica e promessas de estabilidade com alavancagem (sim, essa parte ainda dói um pouco de repetir).

Resta ao investidor brasileiro, ao conservador de direita que nos acompanha aqui no Conservadores Online, refletir com a devida cautela: o MIX, assim como tantos produtos estrangeiros, é mais um exemplo da engenharia financeira que tenta resolver problemas com soluções de aparência mágica. É o famoso “confie no processo”, mesmo quando o processo é um liquidificador de ativos com um botão escrito “rendimento potencial”.

Enquanto o investidor canadense é incentivado a se aventurar por caminhos mistos e alavancados, talvez a verdadeira lição para nós, brasileiros, esteja justamente em observar de longe, com a desconfiança saudável de quem já viu muitos desses produtos surgirem com fogos de artifício e desaparecerem com uma nota de rodapé no site da CVM.

No fim das contas, o Hamilton Enhanced Mixed Asset ETF pode até entregar o que promete. Ou não. Como tudo no mercado, depende do que o mercado decidir fazer. Mas uma coisa é certa: os responsáveis pelo lançamento já garantiram seus bônus. E isso, meus caros, é o verdadeiro investimento de baixo risco.

Se quiser ver a “mágica” com os próprios olhos, o site da empresa traz a apresentação, os gráficos, os textos inspiradores e tudo mais que ajuda a vender o MIX como o novo Santo Graal das finanças canadenses:
🔗 Hamilton ETFs – Insights

E não se esqueça, como bem disseram os criadores do MIX: investir é uma jornada. Só não contaram se é uma viagem de cruzeiro ou uma trilha no deserto com uma bússola quebrada.

Com informações TSX

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