ETF Express premia os mesmos de sempre e glamouriza o mercado financeiro

Ah, o mercado financeiro… esse teatro glamouroso onde os protagonistas se revezam entre ternos sob medida, sorrisos estrategicamente

Ah, o mercado financeiro… esse teatro glamouroso onde os protagonistas se revezam entre ternos sob medida, sorrisos estrategicamente calculados e prêmios cuidadosamente embrulhados com fitas de “sucesso”. Em mais um capítulo dessa ópera do capital, o glorioso evento “ETF Express Closes the Market” foi realizado no dia 29 de maio de 2025, promovido pelo site ETF Express, aquele mesmo que adora colocar holofotes em tudo que brilha – mesmo que seja só verniz.

Sob a liderança de Beverly Chandler, editora-chefe da publicação, e a elegante companhia de Graham MacKenzie, diretor-gerente da divisão de produtos negociados em bolsa da Toronto Stock Exchange (TSX), a cerimônia celebrou os vencedores do “prestigioso” Canadian ETF Express Awards 2025. Um nome pomposo para um troféu que, no fundo, mais parece selo de aprovação de um clube fechado entre os mesmos de sempre.

Mas vamos ao show. Beverly, sempre muito “emocionada”, parabenizou as empresas vencedoras pela vibrante contribuição à “indústria de ETFs no Canadá”. Uma indústria, diga-se, que não foi feita para você, trabalhador que rala 12 horas por dia e mal consegue entender a sopa de letrinhas que esses prêmios lançam como se fossem revelações sagradas dos deuses do capital. Não, não é pra você. É pra eles – os grandes, os conectados, os apadrinhados. Porque enquanto você faz milagre com o Pix parcelado no açougue, eles fazem networking com champanhe no rooftop da Bay Street.

Segundo a matéria original publicada no site TMX (que, claro, escreveram como se estivessem cobrindo o Oscar das finanças), este é o terceiro ano em que o prêmio é concedido em solo canadense. A honraria já brilhava há tempos na Europa (desde 2010) e invadiu os Estados Unidos em 2019 – porque nada mais justo do que globalizar a bajulação entre os “inovadores” da bolsa. Agora, os canadenses também podem subir ao palco e exibir seus troféus com aquele sorriso que só quem surfa na volatilidade com segurança pode dar.

Os critérios? Ah, que maravilha de critério. Os prêmios para os emissores de ETFs são baseados em dados da parceira Trackinsight – porque, claro, a objetividade dos números é sempre bem-vinda quando você os seleciona com o filtro certo. Já os serviços prestados por terceiros, como administradoras e custodians, são avaliados por “processo de nomeação” (leia-se: indicações feitas entre eles mesmos, em jantares discretos e calls de Zoom com vinho na mão). E o toque final? Um “voto qualitativo entre pares”, que traduzido do dialeto corporativo significa: você me indica esse ano, eu te indico no próximo.

Essa é a meritocracia do mercado: um grande círculo onde os aplausos ecoam apenas entre os muros da elite financeira, enquanto os pequenos investidores seguem com dúvidas básicas sobre o que raios é um ETF. Mas, não se preocupe, leitor. Você não precisa entender. Eles já decidiram por você o que é melhor, mais lucrativo e mais seguro – para eles, é claro.

E não pense que esse evento foi apenas uma formalidade. Nada disso. Teve vídeo no YouTube, foto em alta resolução, cobertura completa e muita pose institucional. Porque no mundo dos ETFs, imagem é quase tão importante quanto retorno. E se for pra passar a impressão de que tudo vai bem nos bastidores do capitalismo regulado, então que seja com taças brindando, discursos alinhados e aquela palmadinha nas costas que só quem recebe bônus anual entende.

ETF, caso você esteja se perguntando, significa Exchange-Traded Fund. Em português claro: é um fundo de investimento que é negociado como se fosse uma ação na bolsa. A promessa? Acessibilidade, diversificação e praticidade para o investidor comum. A realidade? Altas taxas camufladas, risco disfarçado de oportunidade e uma selva de opções que só favorece quem entende o jogo por dentro – ou seja, os mesmos que criam, distribuem e… ganham os prêmios.

Mas, cá entre nós, o que esses prêmios realmente significam? Que tal perguntar ao pequeno investidor canadense que entrou no hype de um ETF temático, acreditando que iria surfar na tendência tecnológica ou ecológica, e acabou com retornos pífios enquanto as taxas seguiram sendo debitadas pontualmente. Ou talvez ao analista que ousou questionar a eficácia real desses produtos e foi gentilmente “desconvidado” para os coquetéis da indústria. Afinal, nesse clube, questionadores não ganham troféu – ganham bloqueio no LinkedIn.

E então surge a pergunta: quem ganha, de verdade, com esses prêmios? A resposta é tão sarcástica quanto óbvia: os que já estão no topo. Eles fortalecem a própria reputação, atraem novos fluxos de capital, fecham mais contratos e posam de autoridades em painéis de “educação financeira” que mais parecem evangelização ideológica do investidor iniciante. Tudo embalado em discursos sobre “democratização do mercado”, quando a única coisa realmente democrática ali é o uso indiscriminado de jargões que ninguém entende.

Enquanto isso, do lado de cá da fronteira – e da classe – os brasileiros observam tudo isso com um misto de espanto e déjà vu. Porque, sejamos francos: essa glorificação da indústria financeira não é exclusividade canadense. Aqui, os mesmos rituais se repetem com sotaque diferente, mas com o mesmo script: o banqueiro premiado, o gestor elogiado, o fundo estrelado. E o povo? Bom, o povo segue lutando com o saldo da conta, tentando entender por que o “fundo de índice” que parecia tão moderno não deu aquele retorno mágico prometido pelo youtuber de finanças.

Enquanto o mercado canadense celebra a existência do primeiro ETF do mundo – listado, aliás, na própria Toronto Stock Exchange, como gostam de repetir à exaustão –, o mundo real continua esperando a tal “inclusão financeira” que nunca chega. O que chega mesmo são as propagandas, os banners patrocinados, os relatórios brilhantes de gestoras que mais se preocupam com premiações do que com a realidade econômica do investidor comum.

E quando Beverly Chandler, a grande anfitriã da noite, declara que essa foi uma “celebração vibrante” do setor, o sarcasmo parece escorrer pelas paredes da bolsa de Toronto. Vibrante pra quem, cara pálida? Para o trader que opera em alta frequência? Para o executivo que embolsa bônus mesmo em anos de desempenho medíocre? Ou para o colunista econômico que nunca pisou num bairro pobre, mas insiste em escrever sobre “cultura de investimento”?

A verdade é que prêmios como esses, mais do que reconhecer desempenho, servem para reforçar uma narrativa. A narrativa de que o mercado sabe o que está fazendo, de que tudo está sob controle e de que os protagonistas dessa história são, acima de tudo, visionários benevolentes que só querem ver seu dinheiro crescer – desde que você aceite pagar por isso e não faça muitas perguntas.

Mas há uma boa notícia nisso tudo: cada vez mais pessoas estão acordando para esse teatro. Cada vez mais investidores questionam os modelos, analisam os dados por si mesmos e compreendem que nem todo ETF é uma solução mágica, e que nem todo gestor premiado é sinônimo de confiança. O mercado, por mais que tente dourar a pílula com eventos e condecorações, já não consegue esconder suas contradições.

Portanto, da próxima vez que você vir um prêmio sendo anunciado com pompa e circunstância por instituições como o ETF Express, lembre-se: isso não é sobre você. Isso é sobre manter o jogo funcionando, com as mesmas regras, os mesmos nomes e os mesmos beneficiados. E se você ousar sair do script e perguntar quem realmente lucra com essa festa, prepare-se para não ser convidado para a próxima rodada de brindes.

Mas tudo bem. No mundo real, onde boletos vencem antes dos ETFs renderem, talvez seja melhor mesmo ficar de fora dessa comemoração. Pelo menos, aqui, a gente ainda tem senso crítico. E isso, convenhamos, prêmio nenhum consegue comprar.

Com informações TSX

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