Chevron, Exxon e Hess: Disputa bilionária que pode mudar o petróleo na Guiana em 2025

No coração de uma das regiões de maior crescimento petrolífero no mundo, uma disputa bilionária está em curso,

No coração de uma das regiões de maior crescimento petrolífero no mundo, uma disputa bilionária está em curso, envolvendo gigantes da indústria energética — Exxon Mobil, Hess Corporation e Chevron. A origem desse embate é a aquisição da Hess pela Chevron, em um acordo avaliado em US$ 53 bilhões, que inclui um ativo fundamental: a participação da Hess no promissor Bloco Stabroek, na costa da Guiana.

Este negócio, anunciado em outubro de 2023, é um dos maiores da indústria petrolífera recente, e é central para a estratégia do CEO da Chevron, Mike Wirth, que visa aumentar a produtividade e o valor da empresa em um mercado cada vez mais competitivo e volátil. Porém, o processo que parecia relativamente tranquilo tornou-se alvo de intensa disputa judicial entre Exxon, que opera o Bloco Stabroek, e sua parceira chinesa, a estatal CNOOC, contra a Chevron e Hess.

O ponto crucial da controvérsia é uma cláusula contratual de direito de preferência que Exxon e CNOOC afirmam possuir para adquirir a participação da Hess no campo guianense antes que esta seja vendida a terceiros. A Chevron e a Hess, por sua vez, contestam que essa cláusula não se aplica à venda da empresa como um todo, ou seja, o negócio completo de aquisição da Hess, não apenas à venda de sua participação isolada no Bloco Stabroek.

Essa questão não é apenas uma disputa burocrática — o desfecho determinará o destino de bilhões em petróleo, pois estima-se que o Bloco Stabroek contenha mais de 11 bilhões de barris de óleo equivalente, consolidando a Guiana como uma das fronteiras mais promissoras da produção global de petróleo.

Diante do impasse, o caso foi levado para um tribunal de arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI), que deverá decidir sobre a validade do direito de preferência alegado por Exxon e CNOOC e, consequentemente, sobre a viabilidade da aquisição da Hess pela Chevron. A audiência judicial ocorre de forma confidencial em Londres, e é marcada para a próxima segunda-feira.

O tribunal arbitral, composto por três membros, já recebeu os depoimentos escritos e documentações de todas as partes envolvidas, preparando-se para a fase oral que pode definir o rumo da negociação. A expectativa, conforme informações oficiais e fontes jurídicas próximas ao processo, é que o julgamento seja concluído com uma decisão até o fim do terceiro trimestre de 2025 — um tempo relativamente rápido para os padrões da CCI, onde arbitragens podem durar até dois anos.

O cenário que se desenha é um jogo de paciência e estratégia jurídica, onde nenhuma das partes parece interessada em protelar o processo, apesar dos altos valores envolvidos. William Kirtley, sócio-gerente da Aceris Law, escritório especializado em arbitragem internacional, ressalta que o ritmo acelerado da arbitragem indica que todas as partes estão focadas em uma resolução célere, evitando o desgaste financeiro e de reputação que atrasos prolongados poderiam acarretar.

Durante a audiência, cada empresa terá oportunidade de apresentar suas declarações iniciais, expor testemunhos e provas periciais, além de enfrentar interrogatórios dos árbitros. Ao final, poderão apresentar argumentos finais, tanto orais quanto escritos, que embasarão a decisão do tribunal.

Caso a decisão não seja favorável à Chevron e Hess, a aquisição poderá ser inviabilizada, colocando em risco um negócio que envolve mais do que a simples soma dos valores financeiros — trata-se da consolidação do controle em um dos mercados petrolíferos que mais crescem no planeta.

A situação é ainda mais delicada porque a legislação que rege o acordo operacional conjunto no Bloco Stabroek é a inglesa, que dispõe de regras rigorosas e limitadas para contestação das decisões arbitrais. Assim, a possibilidade de recursos para anular uma decisão desfavorável é restrita, reduzindo as chances de manobras jurídicas posteriores e aumentando a pressão para um acordo ou para o julgamento definitivo nesta fase.

Este episódio evidencia como a complexidade dos contratos internacionais e as alianças estratégicas podem interferir decisivamente nas operações de grandes corporações, especialmente no setor energético, onde ativos e participações valem bilhões e definem o posicionamento competitivo global.

Para o mercado brasileiro e internacional, a decisão da CCI será um importante termômetro para entender a dinâmica de fusões e aquisições no setor petrolífero, sobretudo em regiões emergentes como a Guiana, que já ganhou destaque mundial por sua capacidade de produção e reservas.

Além disso, o desfecho influenciará diretamente o fluxo de investimentos na região, impactando não apenas as empresas envolvidas, mas também os países e economias locais que se beneficiam direta e indiretamente com a exploração petrolífera.

Para a Chevron, a aquisição da Hess representa uma chance única de acelerar seu crescimento e reforçar sua posição em mercados estratégicos. Para a Exxon, a disputa é uma forma de proteger sua fatia em um ativo vital e evitar perder espaço para um concorrente direto. Já para a CNOOC, parceira asiática, trata-se de garantir seus interesses em um projeto de longo prazo que é fundamental para sua estratégia internacional.

A audiência judicial será um marco decisivo, e seus desdobramentos merecem atenção especial por parte de investidores, analistas e demais stakeholders do mercado de energia. Independentemente do resultado, a disputa demonstra o grau de complexidade e as nuances legais que envolvem negócios bilionários em setores essenciais para a economia global.

Enquanto isso, o mundo acompanha a Guiana se consolidar no mapa energético mundial, com suas reservas ainda pouco exploradas e com potencial para transformar a geopolítica do petróleo nas próximas décadas. A decisão da CCI poderá acelerar ou retardar essa transformação, dependendo do veredito final sobre o direito de preferência e a validade do acordo.

Neste contexto, o Open Investimentos reforça a importância de monitorar não apenas os números e resultados financeiros, mas também os movimentos jurídicos e estratégicos que moldam o futuro das grandes corporações do setor de energia.

Esta disputa não é apenas um caso isolado de fusão e aquisição — é uma lição prática sobre como o direito internacional, as estratégias empresariais e o poder dos recursos naturais se entrelaçam de maneira decisiva no mercado global, impactando decisões de investimento e o equilíbrio de forças entre gigantes do petróleo.

Com informações Reuters

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