BNDES injeta R$41 bi na indústria e mira R$300 bi até 2026

Segundo as informações da Agência Reuters, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), anunciou uma elevação

Segundo as informações da Agência Reuters, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), anunciou uma elevação significativa nos recursos destinados à indústria brasileira, com uma injeção adicional de R$41 bilhões até o final de 2026. A declaração foi feita nesta segunda-feira por Aloizio Mercadante, presidente do banco, durante um evento institucional promovido pelo próprio BNDES no âmbito da chamada Nova Indústria Brasil (NIB). Com isso, a meta total de crédito para o setor industrial salta de R$259 bilhões para R$300 bilhões, consolidando uma das maiores apostas da atual gestão Lula 3 para estimular a economia.

O anúncio, embora revestido de um discurso otimista, vem em um momento de grande insegurança fiscal, de juros altos e de um ambiente macroeconômico altamente volátil. Mercadante, em sua fala, não escondeu a preocupação com o custo do dinheiro no Brasil. Segundo ele, a taxa Selic, atualmente em 14,75%, representa “um ponto fora da curva”. Ele ainda defendeu a necessidade de uma “transição”, fazendo alusão à urgência de reavaliar os fundamentos da política monetária brasileira. Ao mesmo tempo, o presidente do BNDES criticou os impactos do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), apontando que, apesar de funcionar como um instrumento de arrecadação, contribui para o estrangulamento do crédito produtivo.

No entanto, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Mercadante parece ter aceitado a contradição como parte da equação: de um lado, o IOF gera receita, ajudando o governo a fechar as contas; de outro, a Selic elevada multiplica a dívida pública, alimentando o já insustentável serviço da dívida brasileira. Em um raro momento de franqueza, Mercadante admite o impasse: o Brasil quer investir, mas a estrutura de juros e impostos atuais torna o crédito caro, limitado e concentrado.

A pergunta que paira no ar é inevitável: vale a pena estimular a indústria com dinheiro público em um ambiente fiscal tão pressionado? O anúncio dos R$41 bilhões a mais ocorre justamente na mesma semana em que o Ministério da Fazenda revelou um pacote de medidas de contenção fiscal, que inclui o bloqueio de R$31,3 bilhões em despesas orçamentárias e o aumento de tributos sobre operações financeiras, câmbio e previdência privada. Ou seja, enquanto o governo aumenta a arrecadação com uma mão, tenta incentivar a produção com a outra. A dualidade é, no mínimo, pragmática, mas levanta dúvidas sérias sobre a eficiência da alocação dos recursos públicos.

Desde o início do atual mandato de Lula, o BNDES já desembolsou mais de R$205 bilhões em empréstimos ao setor produtivo, número que impressiona à primeira vista, mas que exige uma leitura cuidadosa. Em que setores esses recursos foram aplicados? Com que retorno? Qual o custo efetivo desses empréstimos para os cofres públicos, considerando os subsídios, garantias e riscos embutidos? Essas perguntas ainda não têm respostas claras e continuam alimentando o debate sobre a real capacidade do banco em funcionar como motor de desenvolvimento, sem se tornar apenas mais um canal de transferência de riqueza do setor público para grupos empresariais com acesso privilegiado ao poder.

O plano Nova Indústria Brasil resgata uma abordagem que remonta aos tempos do desenvolvimentismo clássico, no qual o Estado atua diretamente como indutor do crescimento industrial. A ideia, teoricamente, é estimular cadeias produtivas estratégicas, como infraestrutura, energia, transporte, tecnologia e inovação, além de tentar reverter o processo de desindustrialização que se intensificou nas últimas décadas. No entanto, o histórico brasileiro em termos de políticas industriais é marcado por fracassos retumbantes, como os famosos casos da Transbrasil, Varig, XuxaSat e dos “campeões nacionais” – empresas que receberam bilhões em crédito subsidiado e acabaram em escândalos, falências ou recuperação judicial.

Evidentemente, a atual gestão promete aprender com os erros do passado. Mercadante garante que os novos recursos estarão ligados a critérios técnicos, com foco em produtividade, inovação e geração de empregos. Mas os investidores privados — principalmente os que acompanham o mercado via Open Investimentos — já viram esse filme antes. Os riscos associados a esse tipo de política são conhecidos: ineficiência alocativa, clientelismo, baixa transparência e retornos abaixo do esperado.

Além disso, é impossível ignorar o cenário fiscal extremamente apertado que assola o país. A dívida pública ultrapassa os 80% do PIB, e as metas fiscais estabelecidas pela equipe econômica já enfrentam desconfiança do mercado. Mesmo com os recentes anúncios de cortes e aumento do IOF, os analistas ainda não veem espaço fiscal suficiente para conciliar expansão de crédito público com responsabilidade orçamentária. Para cada real que o BNDES empresta a juros subsidiados, o Tesouro assume um risco – risco esse que, caso se concretize, recai sobre o contribuinte.

No entanto, há também um argumento técnico que justifica a ação do BNDES: o mercado privado de crédito ainda é insuficiente para financiar projetos de longo prazo no Brasil. Com a Selic elevada, bancos privados preferem emprestar para consumo ou operar com títulos públicos do que assumir riscos em investimentos industriais, especialmente aqueles com maturação de 5, 10 ou 15 anos. Nesse cenário, o BNDES acaba sendo o único ator capaz de destravar projetos de grande porte, e isso é um fato que nem mesmo os críticos mais ferozes conseguem ignorar.

O dilema, portanto, é real: sem crédito público, a indústria não avança; com crédito público, o risco fiscal se agrava. O governo parece ter optado por correr o risco. Em parte, porque a recuperação da indústria é uma promessa política de Lula, que busca resgatar o prestígio do setor manufatureiro como vetor de crescimento, emprego e protagonismo nacional. Em parte, porque a pressão por resultados concretos é grande, especialmente diante de um Congresso cada vez mais cético e de um eleitorado que já não se impressiona com promessas.

Os impactos dessa política sobre o mercado de capitais e os investidores são variados. De um lado, empresas industriais listadas na B3 — como WEG, Randon, Embraer, Gerdau e Klabin — podem se beneficiar com o aumento da disponibilidade de crédito para expansão e modernização. De outro, o custo do capital continua elevado, e o apetite por risco segue contido diante da instabilidade econômica. Além disso, o aumento de tributos como o IOF pressiona margens de empresas com operações no setor financeiro, exportador e de previdência privada.

Investidores que operam com renda fixa devem observar com atenção os movimentos do BNDES, pois a expansão de crédito subsidiado pode afetar a curva de juros, as expectativas inflacionárias e o comportamento do Tesouro Nacional em suas emissões. Já no mercado de ações, o anúncio pode ser interpretado com cautela: embora represente uma tentativa de estimular a atividade, ainda não há garantias de que a execução do programa será eficiente. Se o passado for um indicativo do futuro, os riscos são altos.

Por fim, é importante destacar que o pacote de incentivos à indústria não ocorre em um vácuo. Ele faz parte de uma estratégia mais ampla do governo federal de reconfigurar o papel do Estado na economia, apostando em uma agenda de reindustrialização combinada com sustentabilidade, digitalização e integração produtiva regional. O discurso é moderno, mas sua implementação depende de uma série de fatores: estabilidade política, apoio legislativo, capacidade técnica, e sobretudo, credibilidade fiscal.

Se essa equação vai fechar, ainda é cedo para dizer. O que se sabe é que os R$41 bilhões extras para a indústria não são apenas uma questão de orçamento — são um teste para o modelo de governo que Lula quer implementar. Um modelo que resgata elementos do passado, mas que precisa provar, na prática, que aprendeu com seus próprios erros. Para o mercado, resta a prudência: observar, analisar e decidir com base nos fundamentos. Porque, no fim do dia, o dinheiro pode ser do BNDES, mas o risco — esse, continua sendo do Brasil inteiro.

Com informações Reuters

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