
A Arrow Global, uma das mais discretas, mas agressivas gestoras de fundos de investimento com presença consolidada em diversos mercados europeus, acaba de concluir a compra integral do Troia Resort, um dos ativos turísticos e imobiliários mais emblemáticos de Portugal. A transação, firmada no final de 2024, só foi efetivamente finalizada agora, em maio de 2025, após o cumprimento de uma série de exigências regulatórias e burocráticas típicas deste tipo de negociação de alta complexidade.
O valor envolvido na aquisição permanece confidencial, o que é comum em transações que envolvem múltiplos ativos de relevância estratégica. O que se sabe, e que o mercado observa com atenção, é que a compra engloba um portfólio robusto: os hotéis Aqualuz Tróia Mar & Rio, The Editory By The Sea, o campo de golfe Troia Golf, a concessão da marina de Troia, o serviço de transporte fluvial Atlantic Ferries entre Setúbal e Troia, além de terrenos com grande potencial para desenvolvimento imobiliário de médio e longo prazo.
A operação, conduzida localmente pela Norfin, subsidiária da Arrow Global em Portugal, representa um passo firme na estratégia do grupo em consolidar-se como protagonista na gestão de ativos alternativos no mercado ibérico. A Norfin assume agora a responsabilidade de orquestrar o desenvolvimento imobiliário da região, enquanto a gestão dos hotéis e do campo de golfe ficará a cargo da Details – Hospitality, Sports, Leisure, também pertencente ao ecossistema Arrow.
Mas o que está por trás dessa movimentação?
Para os investidores mais atentos, o movimento da Arrow Global revela muito mais do que a simples diversificação de portfólio ou ampliação de presença em um destino turístico. Trata-se de uma estratégia sólida de valorização de ativos em localizações com restrições naturais e ambientais que, por definição, limitam a concorrência. Troia está inserida na Reserva Natural do Estuário do Sado e na Reserva Botânica de Troia, o que significa que qualquer novo empreendimento deverá ser planejado com extremo rigor ambiental — algo que limita o desenvolvimento desenfreado, mas ao mesmo tempo valoriza exponencialmente cada metro quadrado de solo disponível.
Segundo João Bugalho, CEO da Arrow Global Portugal, a experiência acumulada na gestão da Marina de Vilamoura, outro ativo emblemático do portfólio da Arrow, será crucial para garantir a excelência da operação em Troia. A ideia é clara: usar o conhecimento adquirido em Vilamoura para transformar Troia em um polo de alto padrão, com serviços exclusivos, sustentabilidade ambiental e retorno financeiro de longo prazo.
Com isso, o fundo britânico projeta não apenas criar valor financeiro, mas também fomentar empregos locais e consolidar um modelo de desenvolvimento imobiliário sustentável, alinhado aos desafios ambientais do século XXI. A retórica empresarial, embora polida, aponta para uma visão de longo prazo, algo pouco comum em tempos de especulação de curto prazo e volatilidade econômica.
É importante lembrar que, em Portugal, o setor imobiliário tem sido um dos principais motores da recuperação econômica pós-crise. Com a chegada de fundos internacionais, especialmente após o afrouxamento das restrições pandêmicas e o estímulo governamental à reabilitação urbana e ao turismo sustentável, a península ibérica se transformou em um verdadeiro celeiro de oportunidades para fundos como a Arrow, que atuam com precisão cirúrgica na aquisição de ativos com potencial de revalorização acelerada.
O interesse crescente por ativos que unam turismo de luxo, sustentabilidade e exclusividade geográfica não é por acaso. Em um mercado europeu cada vez mais saturado, Troia representa um “oceano azul” para investidores institucionais que buscam ativos reais com forte componente de diferenciação — algo que o capital financeiro valoriza quase tanto quanto o retorno em si.
A aposta da Arrow se dá, portanto, em três frentes principais:
- A requalificação dos ativos existentes, aumentando sua atratividade para o público internacional de alto poder aquisitivo.
- A expansão ordenada do portfólio imobiliário, respeitando as regras ambientais, mas apostando na valorização contínua de terrenos escassos.
- A geração de valor local, por meio de emprego, serviços de excelência e um novo ciclo de investimento sustentável no turismo português.
Do ponto de vista dos investidores institucionais, este tipo de movimentação é um indicador claro de confiança no mercado português e, em especial, na resiliência do setor imobiliário de luxo em destinos com forte componente ambiental. Em outras palavras, a Arrow não está apenas comprando hotéis, marinas ou campos de golfe — está comprando tempo, escassez e barreiras naturais à concorrência, ativos intangíveis que se tornam cada vez mais relevantes à medida que o mundo caminha para legislações ambientais mais restritivas.
Para os analistas de mercado, o timing da operação também chama atenção. Em um momento em que a Europa enfrenta desafios macroeconômicos, incluindo inflação persistente, desaceleração do crédito e tensões geopolíticas, apostar em ativos tangíveis com fluxos de caixa previsíveis é uma decisão que denota sofisticação analítica e capacidade de resistência a ciclos adversos. A Arrow Global, que já possui uma sólida atuação em crédito, distressed assets e gestão de dívida, agora aprofunda sua presença em ativos reais com alta resiliência.
Em termos estratégicos, a aquisição também reforça a tese de que o futuro do investimento imobiliário não está apenas nas grandes capitais, mas sim em regiões com potencial de diferenciação turística, ambiental e operacional. Troia, com sua combinação rara de beleza natural, acessibilidade (graças à concessão da Atlantic Ferries) e infraestrutura já consolidada, oferece um “pacote” difícil de replicar.
Além disso, vale destacar a escolha da Details – Hospitality, Sports, Leisure como responsável pela gestão dos hotéis e do campo de golfe. A especialização dessa empresa na gestão de ativos de hospitalidade e lazer confere à operação uma camada adicional de profissionalismo, o que tende a se refletir não apenas na experiência do cliente, mas também nos indicadores de desempenho operacional, fundamentais para atrair novos rounds de investimento institucional no futuro.
A perspectiva de desenvolvimento da região nos próximos anos é otimista. Com a presença de um fundo com o peso e a reputação da Arrow, é natural esperar novas sinergias com o setor público, integração com políticas de sustentabilidade, e até mesmo um impulso à valorização imobiliária nas redondezas — algo que deve interessar tanto a investidores individuais quanto a empresas do setor de construção e serviços especializados.
Para o investidor brasileiro que acompanha os mercados globais com olhos atentos, a operação da Arrow Global em Troia é mais do que uma manchete de negócios. É um sinal claro de que o capital inteligente está se reposicionando em ativos que unem rentabilidade, escassez e visão de longo prazo. Em tempos de incerteza, esse tipo de escolha estratégica pode fazer toda a diferença na composição de um portfólio global equilibrado.
Por fim, a conclusão dessa aquisição marca não apenas uma nova fase para Troia, mas também para o próprio ecossistema de investimentos em Portugal. Com a presença de um player como a Arrow, e sua disposição em respeitar os limites ecológicos ao mesmo tempo em que gera valor financeiro, o Troia Resort entra definitivamente no radar dos grandes fundos e family offices que buscam oportunidades com impacto real e retorno sustentado.
Se o futuro do investimento é verde, inteligente e exclusivo, a Arrow Global acaba de dar uma aula de como combinar esses três pilares em uma só jogada.
Com informações Reuters