
No cenário complexo e estratégico do mercado brasileiro, a disputa pelo controle da Braskem, uma das maiores petroquímicas do país e da América Latina, mostra-se cada vez mais intensa e cheia de nuances, refletindo não apenas a relevância da empresa para o setor, mas também os interesses financeiros e estratégicos que permeiam grandes instituições financeiras e investidores privados. A recente movimentação do empresário Nelson Tanure para ingressar no controle da Braskem reacendeu a tensão entre os credores da Novonor – antiga Odebrecht – e trouxe à tona uma batalha que, mais do que uma simples negociação, tem impactos significativos para a governança da empresa e o futuro de seus acionistas.
A história recente da Braskem está intrinsecamente ligada à recuperação judicial da Novonor, que desde 2020 tenta se reestruturar após anos de crise financeira e escândalos corporativos. A participação majoritária da Novonor na Braskem foi dada em garantia aos bancos credores, que buscam recuperar valores expressivos concedidos em empréstimos há muitos anos, quando a Odebrecht ainda não enfrentava os problemas que levaram à sua reorganização judicial.
Neste contexto, os bancos – Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e BNDES – permanecem firmes em seu plano de assumir o controle direto da Braskem, convertendo as ações dadas em garantia em participação acionária efetiva por meio de um Fundo de Investimento em Participação (FIP). A estratégia é clara: gerir a Braskem de forma ativa para melhorar seu desempenho operacional, recuperar valor de mercado e garantir o retorno do capital investido, que hoje soma uma dívida da ordem de R$ 19 bilhões da Novonor para com essas instituições.
A ofensiva de Tanure, que se apresentou com uma proposta envolvendo aporte de US$ 70 milhões em uma das empresas do grupo Novonor, buscando uma fatia entre 3,5% e 5% da Braskem, surge em um momento delicado para os credores, pois seu interesse traz uma dinâmica inesperada à negociação. Embora o empresário tenha sido incluído na mesa de negociações com um acordo de exclusividade anunciado pela própria Braskem, fontes próximas aos bancos garantem que eles não concederam exclusividade a ninguém e permanecem abertos a avaliar qualquer proposta que possa surgir.
A proposta de Tanure, além de representar um investimento significativo, parece ser também uma tentativa de criar um novo equilíbrio na composição acionária da petroquímica, que hoje se encontra paralisada em suas estratégias de transformação e expansão justamente devido ao prolongado processo de venda das ações da Novonor. Contudo, essa movimentação gera desconforto entre os credores, que veem a entrada do empresário como um fator que pode dificultar a concretização do plano originalmente traçado por eles.
O controle da Braskem é um ativo estratégico, não apenas para os bancos e para a Novonor, mas também para a Petrobras, que detém uma participação relevante na petroquímica e considera o ativo indispensável para seus negócios futuros. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, foi enfática ao afirmar que a companhia não pretende abrir mão da Braskem “de jeito nenhum” e reconheceu que existem questões societárias a serem resolvidas que envolvem diretamente a petroquímica.
Caso a batalha entre os bancos e Tanure seja vencida pelos investidores privados, a negociação terá de avançar para a Petrobras, que reivindicará o direito ao co-controle da Braskem. Isso porque a petroleira enxerga a participação na petroquímica como parte essencial da sua cadeia produtiva, principalmente em um momento em que a integração vertical e o domínio de insumos petroquímicos são fatores cruciais para a competitividade e inovação no setor.
Diante dessa conjuntura, os bancos se preparam para fortalecer a gestão do FIP que será responsável pela administração das ações da Braskem. A gestora Geribá, inicialmente escolhida, abandonou o processo por conflitos de interesse relacionados a litígios de outra empresa do setor de petróleo. O mercado indica que a IG4, gestora com histórico em recuperação operacional de empresas, deverá assumir essa função, trazendo experiência necessária para a tarefa complexa que se avizinha.
Esse movimento de troca na gestão do fundo demonstra a seriedade com que os bancos estão tratando a recuperação e valorização da Braskem. O objetivo é que a empresa retome o crescimento e que, num momento oportuno, os credores possam sair da posição acionária com um retorno satisfatório, reduzindo a exposição de risco advinda da dívida histórica da Novonor.
O valor da companhia no mercado, que gira em torno de R$ 9 bilhões, é inferior à dívida total que a Novonor mantém com os bancos. Isso indica que a operação de reestruturação e venda das ações não será simples, demandando estratégias robustas de gestão, negociação e capitalização para viabilizar um resultado positivo. A recente alta de quase 10% nas ações da Braskem, impulsionada pela notícia da entrada de Tanure, exemplifica a sensibilidade do mercado a essas movimentações e o potencial latente da petroquímica quando orientada por uma governança mais estável e eficiente.
A briga pelo controle da Braskem, portanto, não é apenas uma questão financeira, mas uma disputa estratégica que envolve interesses corporativos, de governança e de desenvolvimento do setor petroquímico nacional. Ela reflete o desafio de uma empresa que, mesmo com enorme relevância, está inserida em um cenário de incertezas e negociações complexas, que terão desdobramentos importantes para a indústria química, para o mercado financeiro e para a economia brasileira.
Para os investidores do Open Investimentos, acompanhar de perto esses movimentos é essencial, pois eles impactam diretamente o valor dos ativos, a percepção de risco e as oportunidades de investimento em um dos setores mais relevantes e sensíveis do país. O desfecho dessa disputa poderá definir o rumo da Braskem e influenciar decisivamente o papel dos bancos credores, da Novonor, de Tanure e da Petrobras no futuro da indústria petroquímica brasileira.
Não menos importante, essa operação serve como um alerta sobre a importância da gestão estratégica em momentos de crise, a complexidade das reestruturações financeiras em grandes grupos empresariais e o papel dos investidores institucionais na reconstrução e valorização de empresas fundamentais para a economia nacional. A atenção ao desenrolar desse processo deve ser permanente, pois, além das decisões financeiras, estão em jogo interesses que podem alterar o ambiente competitivo e regulatório do setor petroquímico nos próximos anos.
Assim, enquanto Tanure tenta abrir espaço, os bancos seguem firmes em sua estratégia, ajustando gestões e preparando-se para a próxima rodada da negociação, que deverá ser marcada por muita cautela, análise detalhada e, certamente, novas surpresas no tabuleiro corporativo da Braskem. O mercado aguarda os próximos capítulos desse embate, que prometem ser decisivos para o futuro da empresa e para todos que acompanham o setor petroquímico no Brasil.
Com informações Estadão