Bitcoin e o M2 Global: Analista expõe falhas graves em previsões de mercado

Em um mundo onde algoritmos parecem ditar tendências e gráficos encantam com suas linhas que tudo explicam, muitos

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Em um mundo onde algoritmos parecem ditar tendências e gráficos encantam com suas linhas que tudo explicam, muitos investidores ainda caem na tentação de encontrar no M2 global um oráculo moderno para prever os rumos do Bitcoin. É fácil se encantar com a aparente lógica por trás da relação entre a oferta monetária global e os movimentos de ativos digitais. Afinal, se mais dinheiro está sendo impresso, é natural que os preços dos ativos subam, certo?

Essa simplificação, infelizmente, tem custado caro a muitos investidores. A crítica feita pelo analista conhecido como TXMCtrades, recentemente publicada no portal BeinCrypto, expôs de forma clara e contundente as falhas fundamentais desse tipo de análise. E se você é investidor sério, que busca não apenas retorno, mas consistência e verdade analítica, este é o momento de abrir os olhos para o que realmente está por trás da aparente correlação entre M2 global e Bitcoin.

Vamos aos fatos. A oferta monetária M2 representa o total de moeda em circulação somado aos depósitos bancários de curto prazo. Esse indicador, utilizado há décadas como ferramenta de análise macroeconômica, começou a ser associado ao desempenho do Bitcoin por parte de alguns analistas em busca de validações empíricas para suas teses. A narrativa é sedutora: à medida que os governos expandem suas bases monetárias, o valor do dinheiro tradicional se dilui, e ativos escassos como o Bitcoin se valorizam.

Essa tese, apesar de elegante, desmorona diante de uma análise mais cuidadosa dos dados, da metodologia e das intenções por trás dessas interpretações. E é exatamente aqui que a crítica de TXMCtrades se destaca — ao mostrar que o uso indiscriminado do M2 global não apenas é enganoso, como pode representar um verdadeiro desserviço para quem leva a sério o investimento em criptomoedas.

Primeiro ponto: a falsa precisão dos dados. Quando se traça um gráfico de M2 global com periodicidade diária ou semanal, parte-se do pressuposto de que todos os países atualizam esses dados com a mesma frequência. O problema? Os Estados Unidos divulgam semanalmente, mas a maioria dos outros países só o faz mensalmente — e alguns com ainda menos regularidade. Ou seja, os dados usados para compor uma suposta linha do tempo “global” estão, na prática, defasados, assimétricos e profundamente heterogêneos.

Segundo o analista, o que muitos gráficos chamam de “M2 global” acaba refletindo, na maior parte do tempo, flutuações cambiais — e não variações reais na liquidez global. Isso ocorre porque, como os valores de M2 de cada país são convertidos para dólares, mudanças nas taxas de câmbio acabam influenciando o número final. Resultado? Uma métrica que deveria capturar dinâmica monetária global está, na verdade, refletindo volatilidade cambial.

E aqui entra um ponto crítico: você está olhando para uma taxa de câmbio disfarçada de análise macroeconômica. O impacto disso na tomada de decisão é devastador. Investidores acabam se baseando em gráficos bonitos, mas absolutamente incapazes de capturar a realidade estrutural do mercado. Como o próprio TXMCtrades ironizou: “Seja melhor em matemática.”

Mas não para por aí. O problema se agrava quando analistas tentam alinhar os movimentos de preço do Bitcoin a variações no M2 global utilizando o artifício das chamadas compensações temporais. Aqui, o absurdo atinge um novo patamar. O que se vê são projeções baseadas em atrasos totalmente arbitrários: 12 semanas para um, 15,4 semanas para outro, e até 100 dias quando se trata de altcoins como a Solana.

Ora, desde quando o dinheiro precisa de “tempo de espera” para impactar o mercado? Essa lógica distorce completamente o conceito de causalidade. Dinheiro injetado na economia impacta os mercados com múltiplas velocidades e intensidades — mas assumir uma relação temporal fixa entre M2 e o preço do Bitcoin é pura ficção estatística.

Aliás, não estamos falando de suposições feitas por amadores. Analistas como Raoul Pal, Colin Talks Crypto e Mr. Wall Street são vozes influentes no universo cripto. No entanto, ao adotar esse tipo de metodologia sem o devido rigor científico, acabam contribuindo para um ecossistema de desinformação sofisticada. E nesse jogo, quem paga a conta é o investidor desavisado.

Outro ponto levantado por TXMCtrades é a excessiva dependência da China na composição do M2 global. O país asiático representa hoje cerca de 46% do total global — um número que, por si só, já compromete a representatividade da métrica. Afinal, a China está passando por um cenário único de deflação de dívida e, segundo o analista, está gerenciando mal a recuperação. Com o M2 chinês em constante alta — e sem conexão direta com os mercados ocidentais de criptomoedas — a análise global perde ainda mais a relevância.

E nos Estados Unidos? O país que ainda dita o ritmo da economia global está com sua base monetária estagnada desde 2022. Na prática, o crescimento do M2 norte-americano está no nível mais lento desde a criação do próprio Bitcoin — salvo o período de contração entre 2022 e 2024. Isso mostra que não há uma expansão acelerada da liquidez nos EUA, o que, segundo a lógica dos mesmos analistas, deveria conter o ímpeto de valorização do Bitcoin.

Mas é justamente aí que está o nó: quando o modelo não funciona, muda-se o “delay”. Quando a correlação falha, ajusta-se o eixo. Quando a realidade escapa à previsão, reformula-se a fórmula. Isso tem nome: sobreajuste estatístico — o velho truque de fazer o passado se encaixar perfeitamente para parecer que o futuro será previsível.

Em um ambiente financeiro cada vez mais interconectado, complexo e sujeito a choques externos, buscar atalhos metodológicos é mais do que ingenuidade: é irresponsabilidade. E o apelo feito por TXMCtrades para que os analistas parem de “proliferar interpretações enganosas” deve ser ouvido com atenção. O mercado de criptomoedas precisa urgentemente de maturidade analítica, e isso começa com o abandono de mitos e métricas mágicas.

O que nos traz a uma reflexão mais profunda: por que tantos investidores ainda querem acreditar em correlações simplistas? A resposta talvez esteja no apelo emocional da previsibilidade. O ser humano deseja controlar o futuro, minimizar a incerteza, encontrar padrões em meio ao caos. Mas o mercado — especialmente o de criptomoedas — é tudo, menos previsível. Ele é dinâmico, reativo, irracional, e profundamente influenciado por fatores que muitas vezes escapam aos gráficos.

Portanto, se você busca tomar decisões baseadas em fundamentos sólidos, a lição aqui é clara: não confie cegamente em modelos que prometem mais do que podem entregar. Em vez de depender de correlações arbitrárias, busque entender os vetores reais que movimentam o mercado — desde a política monetária dos bancos centrais até a adoção institucional e o comportamento dos grandes players.

A análise financeira precisa voltar a ser uma ciência aplicada com responsabilidade, e não uma sucessão de palpiteiros com planilhas coloridas. O Bitcoin, com toda a sua complexidade e potencial disruptivo, merece ser analisado com o mesmo rigor dedicado aos ativos tradicionais — ou até mais.

A falsa sensação de controle oferecida por correlações infundadas é uma armadilha intelectual. E pior: é uma armadilha que custa dinheiro. E você, como investidor da Open Investimentos, já sabe que lucros consistentes não vêm de atalhos — mas da paciência, da metodologia e da coragem de questionar até mesmo os consensos mais populares.

Se o seu objetivo é crescer com consciência no universo cripto, não aceite premissas frágeis. Questione, investigue, valide. Afinal, como lembra o próprio TXMCtrades: dinheiro é dinheiro — não tem tempo de espera.

Com informações Beincrypto

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