Carney promete cortes de impostos e alta nos gastos com defesa no Canadá

A história raramente dá segundas chances. Quando o faz, exige coragem, inteligência e, sobretudo, liderança. Em um momento

Canada’s Prime Minister Mark Carney delivers a message, during his Liberal Party election campaign tour, in Niagara Falls, Ontario, Canada April 18, 2025. REUTERS/Carlos Osorio 

A história raramente dá segundas chances. Quando o faz, exige coragem, inteligência e, sobretudo, liderança. Em um momento de instabilidade global e de desafios econômicos que pressionam até as economias mais resilientes, o Canadá encontra-se diante de uma encruzilhada histórica. E é nesse exato ponto de inflexão que emerge a figura de Mark Carney, atual primeiro-ministro canadense, com uma proposta que vai muito além de uma simples plataforma eleitoral. Ele oferece uma nova direção — um projeto ousado, pragmático e profundamente estratégico de reconstrução nacional.

O ex-governador do Banco Central do Canadá e do Reino Unido não apenas conhece os fundamentos da macroeconomia, como também já os moldou em momentos críticos da história recente. Carney foi o maestro silencioso por trás da estabilidade monetária durante o colapso financeiro de 2008 e o Brexit. Agora, em plena campanha eleitoral, ele apresenta ao povo canadense uma proposta que mescla disciplina fiscal com investimentos estratégicos, desenhando uma arquitetura econômica que promete transformar o país em uma potência mais autônoma e menos dependente dos humores dos Estados Unidos.

A mensagem de Carney é clara: o tempo da complacência acabou. A economia canadense precisa de um novo impulso, de um novo norte, e esse norte começa com cortes de impostos, aumento dos investimentos em infraestrutura, modernização dos gastos públicos e um reposicionamento radical na área da defesa nacional. Não se trata apenas de uma mudança contábil — é um realinhamento geopolítico, econômico e institucional.

Diante de um cenário internacional cada vez mais turbulento, Carney se compromete a elevar os gastos com defesa acima da meta da OTAN de 2% do PIB, sinalizando um comprometimento inédito com a segurança coletiva e com a autonomia estratégica do Canadá. Em tempos em que a segurança global se vê ameaçada por regimes autoritários e populismos descontrolados, essa decisão tem um peso que transcende o orçamento. É uma mensagem clara de que o Canadá deixará de ser o coadjuvante diplomático que por anos preferiu a retórica à ação — agora, será ator protagonista na construção da ordem internacional.

Contudo, a plataforma de Carney não se limita à esfera militar. Ele propõe uma reengenharia das finanças públicas com metas concretas e prazos bem definidos. O plano prevê uma redução gradual do déficit público, partindo de 1,96% do PIB em 2025-26 para atingir 1,35% até 2028-29. Trata-se de uma política fiscal que equilibra rigor e pragmatismo, reconhecendo que o excesso de endividamento é um veneno lento que corrói a soberania econômica de qualquer nação. Ao mesmo tempo, Carney evita o erro clássico de governos reformistas, que é cortar investimentos em momentos de crise. Pelo contrário: ele propõe uma separação inédita entre gastos operacionais e investimentos de capital, permitindo maior controle sobre o crescimento da máquina pública e, simultaneamente, mantendo vivos os motores de crescimento de longo prazo.

Essa diferenciação entre despesa corrente e investimento de capital é mais do que uma tecnicalidade fiscal — é um divisor de águas na forma como o Canadá trata o próprio futuro. Pela primeira vez, o país poderá medir de maneira clara o quanto gasta para manter o sistema funcionando e o quanto aplica para expandi-lo, inová-lo e modernizá-lo. Essa clareza é um passo essencial para a construção de um modelo econômico sustentável, eficiente e preparado para os desafios do século XXI.

Mark Carney também foi direto ao afirmar que o governo vinha gastando demais e investindo de menos. Segundo seus cálculos, os gastos públicos têm crescido à taxa anual de 9%, um número alarmante para qualquer país que pretenda manter sua solvência fiscal no médio e longo prazo. Seu compromisso é reduzir essa taxa para 2% ao ano, sem comprometer os repasses a províncias, territórios ou cidadãos. Trata-se de um ajuste que busca eficiência e não austeridade. É uma mudança de mentalidade: em vez de cortar direitos ou sufocar os serviços públicos, Carney propõe que o governo gaste melhor — e não necessariamente menos.

E há um detalhe estratégico que merece destaque. Enquanto muitos líderes evitam se posicionar com firmeza em relação ao papel dos Estados Unidos na política internacional, Carney assume uma postura firme e nacionalista, ao declarar sua intenção de reduzir a dependência canadense em relação à economia americana. Essa posição ganha ainda mais relevância diante das constantes ameaças do ex-presidente Donald Trump, que já impôs tarifas ao Canadá e, de maneira absurda, chegou a flertar com ideias expansionistas em relação ao território canadense.

Carney entende que o futuro econômico do Canadá não pode estar atrelado ao humor de Washington. O mundo é multipolar, e o país precisa diversificar suas parcerias estratégicas. Por isso, ele propõe intensificar os laços com parceiros europeus que compartilham valores democráticos e econômicos semelhantes. É um movimento inteligente e necessário — um verdadeiro hedge geopolítico contra os riscos da excessiva proximidade com um vizinho instável.

Seu discurso em Niagara Falls, em 18 de abril de 2025, foi marcado por uma clareza impressionante: “Estamos em uma crise enorme. Precisamos conter os gastos inúteis, sim. Mas, mais do que isso, precisamos ser ousados, investir na economia e aproveitar as oportunidades incríveis que temos”. Essa frase sintetiza o espírito de sua campanha. Não se trata de uma agenda defensiva ou de mera contenção. É uma proposta ativa, transformadora, que busca recolocar o Canadá como referência global em inovação, responsabilidade fiscal e segurança.

Não é por acaso que Carney faz questão de se distanciar do legado de Justin Trudeau. O ex-primeiro-ministro liberal, embora tenha sido responsável por importantes avanços sociais, também deixou como herança um Estado inchado e um déficit crescente. Ao romper com esse modelo, Carney oferece uma alternativa moderna e eficiente — uma gestão enxuta, porém inteligente. Ele promete equilibrar o orçamento operacional nos próximos três anos, demonstrando compromisso com a responsabilidade fiscal sem sacrificar os pilares do bem-estar social.

Ao contrário de muitos políticos que prometem o impossível, Carney apresenta metas realistas, prazos exequíveis e, acima de tudo, credibilidade técnica. Seu histórico à frente de dois dos maiores bancos centrais do mundo não é apenas um diferencial — é uma garantia de que suas decisões não serão tomadas com base em ideologias, mas em evidências concretas e análises de risco bem fundamentadas.

O plano econômico de Carney também desperta enorme interesse dos investidores internacionais e dos mercados financeiros. O compromisso com a estabilidade fiscal, aliado à modernização da infraestrutura e ao aumento do investimento em segurança, cria um ambiente de previsibilidade e confiança — dois elementos essenciais para atrair capital estrangeiro de qualidade. Em uma era marcada por volatilidade geopolítica e guerras comerciais, o Canadá pode se tornar um dos principais destinos seguros para investimentos de longo prazo.

Para os leitores da Open Investimentos, fica o alerta: o projeto de Mark Carney tem tudo para redefinir os fundamentos da economia canadense. Ele propõe não apenas um novo modelo de gestão pública, mas um novo papel do Canadá no cenário global. E onde há transformação, há oportunidade. A visão de Carney é a de um país mais competitivo, mais seguro, mais eficiente e, sobretudo, mais independente. Esse é o tipo de ambiente onde os bons investimentos florescem — e onde o capital encontra estabilidade com retorno sustentável.

É claro que o sucesso desse plano dependerá de sua capacidade política de implementá-lo. A resistência ao corte de privilégios, a pressão por gastos excessivos e o populismo fiscal serão obstáculos reais. No entanto, se há alguém preparado para enfrentá-los, esse alguém é Mark Carney. Seu perfil técnico, sua experiência internacional e sua visão estratégica o tornam um dos poucos líderes capazes de conduzir o Canadá rumo a uma nova era de prosperidade e protagonismo global.

Diante disso, investidores atentos já começam a recalibrar suas apostas. O Canadá, que por décadas foi visto como um país de oportunidades modestas, pode estar prestes a se tornar uma potência de estabilidade e inovação. E para quem sabe ler os sinais dos tempos, esta pode ser a chance de entrar antes que os holofotes se voltem definitivamente para o Norte.

Com informações Reuters

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