Powell alerta sobre desaceleração e Wall Street despenca com temores de inflação

Em um momento em que muitos investidores ainda digerem os movimentos recentes do Federal Reserve, as palavras de

A trader works on the floor at the New York Stock Exchange (NYSE) in New York City, U.S., April 15, 2025. REUTERS/Brendan McDermid

Em um momento em que muitos investidores ainda digerem os movimentos recentes do Federal Reserve, as palavras de Jerome Powell caíram como um balde de água fria em Wall Street. Segundo a jornalista Caroline Valetkevitch, da Reuters, os três principais índices do mercado americano aprofundaram suas perdas nesta quarta-feira, 16 de abril de 2025, logo após declarações contundentes do presidente do Fed, que não deixaram dúvidas: o crescimento da economia dos Estados Unidos está desacelerando.

A afirmação de Powell veio com a frieza típica de quem tem consciência de que suas palavras podem virar o rumo dos mercados — e foi exatamente o que aconteceu. Durante seu discurso para o Economic Club de Chicago, ele reforçou que a economia americana ainda se encontra em uma “posição sólida”, mas deixou claro que os sinais de enfraquecimento são visíveis, e que a instituição monetária vai esperar por maior clareza antes de implementar qualquer mudança em sua política econômica.

Não é qualquer um que pode mover trilhões com um parágrafo. Mas Powell consegue. E desta vez, sua mensagem foi direta: o ritmo está mudando. O país que há poucos meses ainda celebrava dados de emprego fortes e consumo aquecido, agora começa a apresentar rachaduras em sua estrutura de crescimento. A dúvida que paira é: estamos apenas pisando no freio ou nos aproximando do acostamento?

O impacto foi imediato. Ainda antes da fala do presidente do Fed, os principais índices já operavam em queda. Mas ao final da tarde, os números mostraram o estrago: o Dow Jones despencou 1,57%, o S&P 500 recuou 2,35%, e o Nasdaq caiu 3,43%. A frase de Peter Cardillo, economista-chefe da Spartan Capital Securities, resumiu bem o sentimento do mercado: “Powell está dizendo exatamente aquilo que o mercado temia — e agora sai da boca do próprio presidente do Fed”.

A leitura dos investidores foi imediata: cautela redobrada. A mensagem subentendida foi clara — o Fed não tem pressa em cortar os juros. E isso muda completamente o jogo para quem esperava uma flexibilização monetária mais rápida em 2025. Para aqueles que ainda sonhavam com uma retomada agressiva dos mercados, o alerta foi dado: o otimismo está sendo cobrado com juros — e compostos.

Mas o cenário fica ainda mais complexo quando adicionamos à equação a tensão geopolítica e os desdobramentos do comércio internacional. Conforme reportado por Caroline Valetkevitch, as ações de empresas de chips lideraram as quedas, com destaque para a gigante Nvidia, que alertou para perdas expressivas causadas pelas novas restrições dos EUA à exportação de semicondutores para a China. Um golpe direto no coração tecnológico da bolsa americana, que levou o índice de semicondutores SOX a cair 5,5% no dia.

Não é preciso ser um especialista em geopolítica para entender o tamanho do impacto. A política comercial dos Estados Unidos está cada vez mais imprevisível — e isso afeta diretamente as cadeias globais de fornecimento. O investidor atento sabe que qualquer atrito entre Washington e Pequim reverbera de maneira avassaladora nos portfólios de tecnologia.

Enquanto isso, os números internos das bolsas revelam um campo de batalha: na NYSE, as ações em queda superaram as em alta numa proporção de 1,68 para 1. No Nasdaq, a diferença foi ainda mais brutal — mais de 3.000 papéis caíram, contra apenas 1.266 que subiram. Os dados deixam claro que a aversão ao risco tomou conta dos operadores. E quando isso acontece, o pânico se torna contagioso.

Para os leitores do Open Investimentos, o que se desenha é um retrato de transição. O fim de um ciclo de bonança, sustentado pela liquidez extrema da pandemia e juros historicamente baixos, dá lugar a um ambiente muito mais volátil, seletivo e técnico. Aqui, não há mais espaço para amadorismo — e cada movimento precisa ser calculado como em um jogo de xadrez.

Os investidores institucionais, que até então apostavam em cortes de juros a partir do segundo semestre, já começam a revisar suas projeções. O Fed, diante de uma inflação que resiste a ceder e de dados contraditórios sobre o mercado de trabalho, prefere esperar do que errar. E com razão: uma decisão precipitada agora pode custar muito mais caro no futuro.

E não se trata apenas de política monetária. Como bem destacado na matéria de Caroline Valetkevitch, o ambiente regulatório também está se tornando mais hostil, especialmente para as big techs e o setor de semicondutores. As tarifas, que até pouco tempo pareciam ser uma carta descartada do baralho geopolítico, voltam a ganhar protagonismo. E com isso, a previsibilidade — esse bem tão precioso para o investidor — desaparece.

A verdade incômoda é que estamos vivendo uma nova era de investimento, na qual os fundamentos tradicionais precisam ser revisitados à luz de uma nova realidade: crescimento mais fraco, inflação resiliente, política externa agressiva e juros ainda elevados. Quem não entender esse novo normal, corre o risco de tomar decisões com base em premissas que já não se sustentam.

Mais do que nunca, o momento exige análise profunda, leitura estratégica e posicionamento cirúrgico. Os setores que antes eram considerados intocáveis, como o de tecnologia, agora estão sob fogo cruzado. E isso muda completamente a composição das carteiras. Quem insistir em manter portfólios passivos, baseados em tendências antigas, corre o risco de ver seus ativos evaporarem no curto prazo.

Para os brasileiros com exposição ao mercado internacional, o alerta é ainda mais relevante. Com o real volátil, a inflação sob pressão e um cenário interno político conturbado, os ativos em dólar sempre foram vistos como porto seguro. Mas o que fazer quando até mesmo Wall Street entra em rota de colisão com seus próprios fundamentos? A resposta está na diversificação inteligente, no foco em empresas com capacidade de adaptação e em setores menos expostos a riscos geopolíticos.

O investidor moderno não pode mais se dar ao luxo de apenas acompanhar o noticiário. É preciso interpretar os sinais, entender os movimentos de Powell, perceber as nuances das declarações de executivos como os da Nvidia e traduzir tudo isso em ações concretas. Porque no final do dia, os mercados não premiam quem é rápido — premiam quem é preciso.

O artigo de Caroline Valetkevitch, da Reuters, traz uma contribuição fundamental ao expor com objetividade e profundidade o cenário que se desenha. Suas palavras não são apenas uma crônica do dia, mas sim um alerta para todos aqueles que insistem em acreditar que o mercado voltará ao modo “bull” por gravidade. Não voltará. O que se avizinha é um período de ajustes, de seletividade e, principalmente, de maturidade.

Portanto, caro leitor do Open Investimentos, o momento pede mais do que atenção: pede estratégia. O que está em jogo não é apenas o desempenho de um trimestre, mas a reconfiguração de todo o sistema de precificação de ativos. E quem souber interpretar os sinais agora, colherá os frutos quando a poeira baixar.

Enquanto isso, seguimos observando. Porque como nos ensinou Warren Buffett, é quando a maré baixa que descobrimos quem estava nadando nu. E pelas quedas vistas hoje, muita gente já começou a correr para a toalha.

Com informações Reuters

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