O mercado de renda fixa no Brasil vive um momento singular e inusitado, um período que, ao que tudo indica, se estenderá por um tempo considerável. A frase “A renda fixa vive um momento histórico” é recorrente em conversas de especialistas e investidores do mercado financeiro, e reflete a realidade que muitos têm observado nas últimas semanas de 2024. Esse cenário tem tudo para se prolongar até pelo menos 2025, o que leva a crer que o ano vindouro será igualmente favorável para aqueles que apostam na renda fixa como a principal estratégia de investimento.
Em um contexto de incertezas fiscais no Brasil, agravadas pela volatilidade política e pela falta de uma gestão fiscal sólida, o cenário global também não é dos mais tranquilos. A sinalização do Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos, que indicou que a queda dos juros por lá não será tão acentuada quanto se esperava, gerou um impacto direto nos mercados globais, especialmente nas economias emergentes. Contudo, essa conjuntura, longe de ser um empecilho, parece impulsionar o mercado de renda fixa brasileiro, que oferece uma alternativa atraente de rentabilidade para os investidores mais cautelosos.
A combinação de fatores como a alta dos juros no Brasil, com a Selic mantendo-se em patamares elevados, e o aumento das taxas de títulos públicos, tem gerado um retorno altamente satisfatório, com a desconfiança política em relação ao atual governo sendo compensada pela segurança dos investimentos em renda fixa. No Tesouro Direto, por exemplo, as taxas dos títulos prefixados ultrapassaram a marca dos 15%, enquanto os títulos atrelados ao IPCA, conhecidos como IPCA+, chegam a oferecer retornos superiores a 7%. Esses números, por si só, são argumentos suficientes para que os investidores reavaliem suas estratégias e considerem a renda fixa como uma opção sólida para preservação e crescimento de capital.
Julio Ortiz, sócio-fundador da CX3, é um dos especialistas que compartilham a visão de que o Brasil vive um momento excepcional para quem busca segurança e retorno atrativo. Segundo ele, se o cenário de um IPCA de 4,60% e uma Selic de 15% se confirmar para 2025, como é esperado por grande parte do mercado, os retornos dos títulos atrelados à inflação podem chegar a impressionantes 10%. “Não lembro de ter vivido um momento parecido”, diz Ortiz, destacando que esses números representam uma taxa imbatível para o investidor em termos de rentabilidade e baixo risco.
Em um cenário em que a renda fixa proporciona tais resultados, a principal dúvida dos investidores é se ainda vale a pena correr maiores riscos com outras modalidades de investimento. A resposta de muitos especialistas é clara: em um momento como o atual, em que as opções de títulos oferecem retornos elevados e a probabilidade de calote é extremamente baixa, a prudência recomenda que se priorize a segurança e a estabilidade dos investimentos. A XP Investimentos, por exemplo, tem recomendado um aumento na alocação de títulos atrelados ao IPCA+, que são vistos como os preferidos do momento, pois além de protegerem contra a inflação, oferecem uma rentabilidade considerável.
A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que indicou uma possível alta de 1 ponto percentual na Selic em 2025, reforçou a visão de que a renda fixa será uma das alternativas mais atraentes para o investidor. Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, observa que essa sinalização reforça a expectativa positiva para o ano seguinte. “Já estávamos com uma perspectiva otimista em relação à renda fixa, e após a última reunião do Copom, essa perspectiva foi ainda mais consolidada”, afirmou Dolle, destacando que a expectativa de uma Selic em torno de 15% mantém os investimentos em renda fixa altamente competitivos.
Com a Selic nos atuais patamares elevados, os rendimentos de investimentos como os títulos públicos, CDBs, LCIs e LCAs continuam sendo mais vantajosos, uma vez que oferecem remunerações superiores sem a necessidade de exposição a riscos elevados, como ocorre em outras classes de ativos mais voláteis, como ações ou criptomoedas. Lucas Pereira, analista de renda fixa da AMW, enfatiza que o ambiente atual favorece a renda fixa, que se destaca por sua segurança e por um retorno competitivo, especialmente para investidores que buscam mais previsibilidade em um cenário econômico global de maiores incertezas.
Ao optar por investir em renda fixa em 2025, o investidor precisa ter clareza sobre os diferentes tipos de papéis disponíveis e suas características específicas. A diversificação de investimentos é sempre uma recomendação de ouro, e isso inclui também a renda fixa. Além dos tradicionais títulos do Tesouro Direto, há a possibilidade de investir em papéis bancários, como CDBs, LCAs e LCIs, que também oferecem rentabilidade interessante, principalmente quando se observa a sólida performance de alguns bancos, que têm se mostrado mais inclinados a oferecer taxas atrativas para reforçar seus caixas, dado o cenário de juros elevados.
Ortiz também destaca que os grandes bancos, visando aumentar sua liquidez, estão oferecendo boas condições de remuneração, mesmo em um ambiente de alta nos juros. No entanto, é essencial que o investidor se atente à qualidade do emissor dos papéis bancários e avalie o risco envolvido, uma vez que nem todos os bancos oferecem o mesmo nível de segurança e solidez financeira. A recomendação é que o investidor busque se limitar ao montante de até R$ 250 mil por emissor, valor protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), para garantir que, em caso de calote, o investimento seja reembolsado.
Dolle, por sua vez, alerta para a importância de investigar o perfil dos emissores, especialmente no caso dos papéis bancários, e de avaliar se a rentabilidade realmente compensa os riscos assumidos. Para quem opta por investir nesses títulos, a chave é a diligência na escolha do emissor, para evitar riscos desnecessários que possam comprometer o retorno do investimento.
A escolha entre prefixados, pós-fixados e títulos atrelados à inflação é uma das questões cruciais a ser resolvida por quem pretende investir em renda fixa em 2025. Os títulos prefixados, por exemplo, apresentam a vantagem de garantir uma taxa fixa no momento da aplicação, o que confere previsibilidade ao investidor. Contudo, é importante que o investidor esteja atento ao ciclo de altas da Selic, pois a taxa de juros pode continuar subindo, o que tornaria os novos prefixados ainda mais atrativos do que os emitidos atualmente. Isso significa que quem investir agora, em títulos prefixados, poderá perder a oportunidade de aproveitar taxas mais altas no futuro, caso a Selic continue sua trajetória ascendente.
Por outro lado, os títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic, têm a vantagem de acompanhar as variações da taxa de juros. Esses títulos são ideais para investidores mais conservadores, que buscam uma rentabilidade estável sem se expor a riscos excessivos. Já os títulos atrelados à inflação, como os do Tesouro IPCA+, têm se destacado como uma excelente opção para quem tem um horizonte de investimento mais longo. Esses papéis garantem uma rentabilidade real, que combina a variação do IPCA com uma taxa adicional, o que proporciona proteção contra a inflação e um bom retorno financeiro.
Para investidores mais arrojados, os títulos atrelados ao IPCA podem ser uma excelente escolha, especialmente para aqueles que têm um planejamento financeiro bem estruturado e um perfil de longo prazo. No entanto, esses títulos exigem paciência, já que os melhores retornos são observados no momento do vencimento. Para quem pode esperar até o final do período de maturação, o IPCA+ oferece uma remuneração vantajosa, com o benefício adicional da proteção contra a inflação.
Em relação à duração desse ciclo de juros elevados, especialistas como Ortiz e Dolle acreditam que ele se estenderá até pelo menos 2025. A expectativa é que, apesar de uma possível diminuição da taxa de juros no segundo semestre de 2025, as taxas ainda se mantenham altas. O cenário político do Brasil, marcado pela proximidade das eleições de 2026, limita as possibilidades de implementação de medidas impopulares, como cortes de gastos, o que dificulta a perspectiva de uma queda acentuada da Selic a curto prazo.
Diante disso, a recomendação de especialistas é que o investidor permaneça atento às mudanças no cenário econômico e, quando necessário, ajuste sua carteira de investimentos de acordo com as novas condições do mercado. A renda fixa, em 2025, continuará a ser uma excelente opção para aqueles que buscam segurança, rentabilidade e previsibilidade, e os ventos favoráveis devem se manter durante todo o ano. No entanto, a flexibilidade e a capacidade de adaptação são essenciais para quem deseja maximizar seus ganhos e mitigar os riscos associados a um ambiente de incertezas fiscais e econômicas.
Com informações Bora Investir