O turismo, frequentemente visto como uma força econômica vibrante e um catalisador para o desenvolvimento social, esconde uma realidade preocupante quando analisado sob a ótica ambiental. Os dados mais recentes indicam que o setor é responsável por cerca de 9% das emissões globais de carbono, com um crescimento alarmante de 3,5% ao ano entre 2009 e 2020, superando o aumento médio de 1,5% de outros setores econômicos no mesmo período. Isso coloca o turismo como um dos principais motores da pegada de carbono global, mas será que o mundo está preparado para enfrentar esse dilema crescente?
Pesquisas publicadas na respeitada revista Nature Communications destacam como o rápido aumento da demanda por viagens, especialmente as de longa distância, tem superado os avanços tecnológicos no setor. As emissões provenientes de viagens aéreas, automóveis movidos a gasolina e utilitários representam mais de 50% da pegada de carbono do turismo, segundo Ya-Yen Sun, professora da Universidade de Queensland. Apesar dos avanços em eficiência energética, os desafios tecnológicos e políticos tornam a rápida descarbonização do setor de aviação uma meta distante.
Adicionalmente, a desigualdade na distribuição das emissões é evidente. Apenas 20 países, liderados por Estados Unidos (19,1%) e China (14,5%), são responsáveis por 75% das emissões do setor. Países como Brasil, que ocupa o 13º lugar nas emissões globais do turismo, destacam-se tanto pelo turismo doméstico quanto receptivo. Essa concentração reflete a dominância de economias avançadas e emergentes, cujos hábitos de consumo moldam as tendências globais do setor.
No entanto, a sustentabilidade do turismo não pode ser discutida sem levar em conta os benefícios econômicos do setor. Com uma contribuição de 9,1% do PIB global e sustentando 330 milhões de empregos diretos e indiretos, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), o turismo é um motor essencial para economias globais e locais. Mas será que esses benefícios justificam os impactos ambientais crescentes?
Dilemas e soluções possíveis
As emissões de carbono relacionadas ao turismo não apenas ameaçam a sustentabilidade ambiental, mas também afetam a viabilidade econômica de destinos vulneráveis. Países que menos contribuem para as emissões, como pequenas ilhas e nações em desenvolvimento, enfrentam riscos climáticos desproporcionais, incluindo aumento do nível do mar, secas e tempestades extremas. Esses desafios já estão impactando o fluxo turístico, essencial para a sobrevivência econômica desses locais.
Para enfrentar esse dilema, os especialistas propõem políticas inovadoras, como a taxação de viajantes frequentes. Essa medida exigiria colaboração entre governos e companhias aéreas para garantir sua eficácia. Além disso, a promoção de destinos de curta distância e o incentivo ao uso de tecnologias mais limpas, como veículos elétricos, podem mitigar os impactos. Entretanto, a viabilidade dessas soluções depende de investimentos massivos em pesquisa e infraestrutura.
Um exemplo positivo é a parceria entre Stellantis e a chinesa CATL, que visa a construção de uma fábrica de baterias para veículos elétricos na Espanha, com um investimento de € 4,1 bilhões. Essa iniciativa não apenas reforça a necessidade de avanços tecnológicos, mas também aponta para uma transição gradual para opções de mobilidade mais sustentáveis no turismo.
Apesar dos esforços globais, a aviação permanece como o maior desafio. Biocombustíveis, amplamente vistos como uma solução promissora, enfrentam barreiras significativas de custo e produção. Isso levanta a questão: será que o setor de aviação está preparado para enfrentar as demandas de descarbonização no curto prazo?
Iniciativas internacionais e o futuro do turismo sustentável
A COP29, realizada recentemente em Baku, trouxe esperanças para um futuro mais sustentável no turismo. 52 países assinaram uma declaração reconhecendo a necessidade de integrar o turismo em suas políticas climáticas. No entanto, críticos apontam que as promessas feitas nesses fóruns nem sempre se traduzem em ações concretas.
Enquanto isso, iniciativas como a da WTTC, que mede e compensa emissões, oferecem um modelo de ação que pode ser replicado globalmente. A questão central permanece: as medidas adotadas hoje serão suficientes para mitigar os impactos do turismo no clima global, ou estamos caminhando para um ponto sem retorno?
Os números não mentem: o turismo é tanto uma força econômica essencial quanto um contribuinte significativo para as mudanças climáticas. A responsabilidade recai sobre governos, empresas e consumidores para equilibrar esses dois aspectos de maneira eficaz. Enquanto avanços tecnológicos e políticas climáticas avançam lentamente, o tempo para agir está se esgotando.
Porém, o verdadeiro desafio talvez resida na conscientização dos próprios viajantes. Cada decisão de viagem carrega implicações ambientais, sociais e econômicas. Você está disposto a repensar seu papel nesse complexo cenário global?
Com informações Reuters