Se você está acompanhando o mercado financeiro nos últimos dias, sabe que o dólar ultrapassando a marca de R$ 6,20 é apenas o reflexo de um jogo que, honestamente, não tem vencedores a curto prazo. A alta da moeda americana, enquanto o Banco Central se desdobra em intervenções, escancara uma situação incômoda: o mercado está descontente, desconfiado e, acima de tudo, ciente de que soluções paliativas não funcionam. Até quando a alta do câmbio será atribuída a “efeitos temporários” ou “riscos externos”, quando a verdadeira raíz do problema se encontra dentro das fronteiras brasileiras? Pois bem, esse é o dilema que nos coloca novamente sob a mira dos especuladores.
É claro que as intervenções do Banco Central têm um efeito “tónico”, como uma injeção de adrenalina no sistema financeiro, mas isso não resolve o cerne do problema. Quando você observa a venda extraordinária de US$ 1,272 bilhão, somada às operações recentes que já ultrapassam US$ 10 bilhões, percebe que estamos lidando com um remédio que trata apenas os sintomas. O paciente é o real brasileiro, e ele segue enfraquecido porque a doença é fiscal, política e estrutural. Sem um ajuste consistente, a desvalorização será um círculo vicioso, e você, investidor, não pode ficar inerte.
A pergunta que muitos estão se fazendo é: por que o real é, sistematicamente, a moeda emergente que mais se desvaloriza? A resposta é uma combinação explosiva de incertezas fiscais, um cenário político conturbado e a incapacidade de entregar soluções concretas. Enquanto o mercado aguarda um plano fiscal robusto, as falas desencontradas e as críticas à política de juros apenas adicionam lenha à fogueira. A falta de articulação do governo, a demora em votações importantes e as constantes idas e vindas de propostas econômicas deixam o investidor estrangeiro desconfiado e o doméstico sem horizonte.
Não é coincidência que os juros futuros também estão reagindo com forte alta. A taxa para outubro de 2027 bateu 15,69%, enquanto os contratos para janeiro de 2033 já superam 14,85%. Quer dizer: o mercado está precificando uma necessidade urgente de ajuste fiscal e um controle mais efetivo sobre a inflação, que continua sendo o fantasma a ser combatido. Com a ata do Copom indicando aumento da Selic até 14,25%, similar aos tempos sombrios da crise de 2015/2016, a mensagem é clara: não se brinca com a credibilidade da política monetária. O problema é que, enquanto a Selic sobe, o crescimento estagna e os custos de financiamento aumentam, penalizando a produtividade e, por tabela, o trabalhador brasileiro.
Lá fora, o Federal Reserve também segue no radar. Uma possível redução de 0,25 ponto percentual nos juros americanos pode até aliviar a pressão momentânea, mas sejamos honestos: os problemas são muito mais internos do que externos. A comparação com o período pré-eleição de Lula em 2002, quando o dólar corrigido pela inflação bateu R$ 8,75, também merece atenção. A diferença é que, naquela época, o governo eleito apresentou um plano de transição econômica que, independentemente de divergências ideológicas, tranquilizou os mercados. E agora? O que estamos vendo são soluções improvisadas e falta de coesão na condução da economia.
O mercado financeiro, como você bem sabe, é pragmático. Quer sinais claros, previsibilidade e ações firmes. A declaração do futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, sobre intervenções apenas em caso de disfuncionalidade no mercado cambial, foi uma tentativa de acalmar os nervos. No entanto, a realidade é que a falta de dólares é concreta, com bancos registrando cerca de US$ 30 bilhões em caixa, uma queda substancial em relação aos US$ 50,6 bilhões registrados em setembro. Se você está se perguntando por que isso importa, lembre-se: a escassez de liquidez empurra a cotacão ainda mais para cima, alimentando um ciclo que afasta investidores e penaliza a economia real.
É nesse ponto que você, como investidor, precisa refletir: onde está a oportunidade em meio ao caos? Em momentos como este, onde o pessimismo domina as manchetes, os grandes players encontram janelas estratégicas para posicionamento. Se a situação fiscal continuar indefinida, hedge cambial e investimentos em ativos dolarizados se tornam praticamente obrigatórios para proteção do capital. Além disso, a alta da Selic abre espaço para novas oportunidades em títulos do Tesouro e outros instrumentos de renda fixa, que, com taxas de dois dígitos, são um porto seguro em tempos turbulentos.
Por outro lado, é preciso estar atento à sinalização dos grandes gestores. A declaração de Matheus Spiess, da Empiricus Research, não poderia ser mais precisa: intervir no mercado cambial sem um ajuste fiscal é como enxugar gelo. É apenas questão de tempo até que o próximo ciclo de alta do dólar aconteça, e se você ainda não está preparado, pode pagar um preço alto. A desvalorização cambial impacta diretamente nos custos das empresas, pressiona os preços ao consumidor e reduz o poder de compra da população. No fim das contas, todos nós pagamos essa conta.
Agora, se você ainda tem esperança de que as soluções virão de uma intervenção pontual ou de um discurso positivo do governo, vale lembrar a velha máxima: o mercado precifica fatos, não promessas. E os fatos, neste momento, estão longe de serem animadores. O dólar a R$ 6,20 é um recado claro de que os investidores perderam a paciência. Não adianta buscar culpados externos quando a solução depende de reformas estruturais que, infelizmente, parecem cada vez mais distantes.
É hora de você pensar como os grandes gestores: proteger o capital, diversificar e buscar ativos que ofereçam segurança em meio à incerteza. Se o Brasil não fizer a lição de casa, o mercado fará as cobranças do jeito mais cruel possível: com fuga de investimentos, alta do dólar e aumento dos juros. No fim das contas, você precisa estar preparado para navegar nesse mar revolto. Afinal, como diria um velho ditado do mercado financeiro: “enquanto uns choram, outros vendem lenços”. De que lado você quer estar?
Com informações Folha de S.Paulo