
A 12ª edição da Semana Nacional de Educação Financeira (Semana ENEF) promete reforçar o discurso sobre a importância da educação financeira para crianças e jovens, tentando, mais uma vez, transformar um país de endividados em uma nação de consumidores conscientes. Mas será que esse evento anual, repleto de boas intenções, realmente gera um impacto real na cultura financeira do brasileiro? Ou estamos apenas testemunhando mais um capítulo de uma pedagogia financeira institucionalizada que não atinge o cerne do problema?
A Semana ENEF 2025 ocorrerá entre os dias 12 e 18 de maio, organizada pelo Fórum Brasileiro de Educação Financeira (FBEF). O evento, que já se tornou um marco na agenda econômica do país, conta com a participação de instituições públicas, privadas e da comunidade escolar, com o objetivo de transmitir conhecimentos sobre educação financeira, previdenciária, securitária e fiscal. Este ano, o grande desafio será fomentar hábitos financeiros saudáveis desde a infância, criando um alicerce sólido para as futuras decisões econômicas dos brasileiros.
Se analisarmos friamente, a proposta soa promissora: crianças e adolescentes, munidos de conhecimento financeiro desde cedo, se tornariam adultos mais preparados para lidar com o dinheiro, evitando armadilhas como o endividamento excessivo, a falta de planejamento de longo prazo e a total dependência do crédito. Mas há uma pergunta incômoda: isso é suficiente para transformar o cenário financeiro do Brasil?
A grande questão é que o problema do endividamento não é apenas uma questão de conhecimento. Se fosse, bastaria educar e todos estariam livres das dívidas. O problema é estrutural e envolve fatores como baixa renda, consumo impulsivo, falta de cultura de poupança e políticas econômicas que incentivam o crédito fácil sem a devida orientação.
O evento se coloca como um esforço coletivo, convidando instituições de todos os setores a promoverem iniciativas que sensibilizem crianças e jovens sobre a importância de uma relação saudável com o dinheiro. Alessandro Octaviani, Superintendente da SUSEP e Presidente do FBEF, reforça a ideia de que a educação financeira deve começar na infância e que a Semana ENEF 2025 será um momento crucial para esse avanço.
A intenção pode até ser louvável, mas a realidade é que educação financeira só tem efeito quando vem acompanhada de incentivos práticos e estruturais. De nada adianta ensinar uma criança a economizar se o próprio sistema a incentiva a consumir. O brasileiro médio convive com uma realidade onde a inflação corrói o poder de compra, os salários são baixos e o crédito é vendido como a única solução viável para qualquer necessidade. O que adianta aprender sobre juros compostos na escola, se no mundo real as opções de investimento são inacessíveis para a maioria da população?
A Semana ENEF, criada em 2014, já tem um histórico de iniciativas que, na teoria, soam promissoras. São propostas como:
- Ensinar noções básicas de finanças desde a infância (o que é essencial, mas insuficiente);
- Capacitar educadores para abordar educação financeira (mas sem mexer nos problemas estruturais que afetam a renda familiar);
- Promover o diálogo sobre finanças dentro da escola e da família (uma tentativa válida, mas que esbarra na falta de cultura financeira dos próprios pais);
- Incentivar hábitos financeiros saudáveis e escolhas responsáveis (enquanto o marketing agressivo e o consumo desenfreado continuam sendo incentivados).
Se há um mérito no evento, ele está no fato de que a Semana ENEF não se limita a um único tema. Ela permite que instituições explorem diferentes abordagens e necessidades, sem restringir a criatividade das iniciativas. Mas, novamente, será que a teoria se converte em prática?
O Fórum Brasileiro de Educação Financeira (FBEF), responsável por coordenar essa estratégia, é composto por grandes instituições financeiras e órgãos reguladores, como Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários, Ministério da Fazenda, Ministério da Educação e SUSEP. Ou seja, as mesmas entidades que regulam o sistema financeiro e que, muitas vezes, contribuem para o problema do superendividamento da população.
É quase um paradoxo: os responsáveis pelo ambiente financeiro do Brasil querem ensinar os brasileiros a não cair em armadilhas que eles próprios criam. Quem tem um cartão de crédito no Brasil sabe o quanto as taxas de juros são exorbitantes, a publicidade incentiva o consumo descontrolado e a burocracia dificulta o acesso a investimentos realmente vantajosos.
Dessa forma, a Semana ENEF pode até trazer ganhos educacionais, mas sem mudanças profundas no sistema de crédito, na regulação do consumo e nos incentivos ao investimento, o impacto será sempre limitado.
O Brasil precisa de mais do que educação financeira. Precisa de um ambiente econômico menos hostil ao pequeno investidor, com melhores opções de crédito, juros mais baixos e incentivo real à poupança e ao investimento.
O que de fato mudaria a realidade financeira do país?
- Redução da carga tributária sobre investimentos – O brasileiro paga impostos altíssimos sobre aplicações financeiras, o que desincentiva a construção de patrimônio no longo prazo.
- Reforma no crédito ao consumidor – As taxas de juros abusivas fazem com que o crédito seja mais uma armadilha do que uma ferramenta de crescimento.
- Incentivos reais à educação financeira aplicada – Programas que ensinem como investir de forma acessível e desmistifiquem produtos financeiros complexos seriam muito mais eficazes.
- Promoção de uma cultura de investimento de longo prazo – O brasileiro ainda pensa em dinheiro a curto prazo, seja pela falta de informação ou pela insegurança econômica.
- Maior regulação do marketing de crédito – Bancos e financeiras promovem crédito de maneira excessivamente agressiva, enquanto campanhas educativas são pouco impactantes.
A Semana ENEF 2025, mesmo com toda sua relevância, precisa ir além de simples conscientização. Se o evento continuar sendo apenas um espaço de palestras e cartilhas, seu impacto será irrisório diante da força do consumo impulsivo, do crédito fácil e do endividamento estrutural.
O grande desafio é transformar conhecimento em prática, permitindo que a educação financeira não seja apenas um conceito bonito, mas uma ferramenta real de mudança na vida das pessoas. Enquanto isso não acontecer, a Semana ENEF seguirá como um evento de boas intenções, mas de impacto limitado na realidade financeira do brasileiro médio.
Com informações Agência INSS